1 Semana sem Smartphone




Embarquei nesta "aventura" sozinho, por iniciativa própria. A ideia é desligar-me no smartphone e tudo o que vem com ele, o bom e o mau, depois ver as vantagens e desvantagens de não o ter.
Nesta fase, não vou deixa-lo em casa, ou mudar para um dumbphone, como eu gosto de o chamar, à quem chame de featuredphone. Vou activar a opção Ultra Poupança, que desactiva maior parte das funções de uma smartphone, transformando-o praticamente num dumbphone em milésimos de segundo. Porquê ? Tenho muitos contactos e provavelmente ia demorar a semana toda a passa-los para o dumbphone com aquele teclado "vintage". Se gostar da aventura, pode ser que os passe e ponha o smartphone de parte.

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Como surgiu a ideia:

A ideia surgiu quando estava na festa de Natal do meu filho mais novo, e literalmente toda a gente estava com os olhos colados no ecrã de um smartphone a filmar. Compreensível nos tempos de hoje, querem guardar uma recordação. Mas se pensarmos bem, eles nunca viram aquele momento ao vivo,  viram o filho através do smartphone, porque desviar os olhos por uns segundos estraga um vídeo.


Outra vez foi numa sala de espera de um serviço. Até podiam não estar a fazer nada de jeito, mas o smartphone por vezes serve de desculpa para ser mal educado, e não cumprimentar ou conversar com um desconhecido. Mais depressa metem conversa numa rede social, do que interagem pessoalmente.
Existem pessoas que não vivem sem os seus smartphones, que chega a ser triste.




Eu nasci num tempo que não haviam telemóveis, foram aparecendo timidamente, porque eram muitos caros. Depois deu-se um BOOM Tecnológico e em poucos anos chegamos aqui, quase ao limite de avanço tecnológico relativamente a smartphones (segundo a própria Samsung). Se nós vivíamos bem sem eles, porquê é que agora quando esquece-mos deles em casa e parece que o Mundo vai acabar ?



As regras:


1. O smartphone tem que estar em modo Ultra Poupança.
Esta opção elimina quase todas as funções de um smartphone e praticamente transforma-o num featuredphone, com a diferença que ainda temos acesso a umas APP's, que eu escolhi não usar.




3. Usar apenas em caso de emergência - Isto depende um pouco do que cada um vai considerar uma emergência tecnológica. Quanto mais esfarrapada for a desculpa, mas provável será teres um problema de vício com o smartphone que, por curiosidade, no Japão (salvo erro) é tratado como outro vício qualquer, equiparado ao tabaco e ao álcool. Fazem reuniões e existem clinicas e tudo !

4. Uma semana começa na segunda-feira e acaba no Domingo.
Não existem dias de batota, uma semana é uma semana.

5. Não vale fazer batota.
Sejamos realistas, se fizeres batota num desafio que colocaste a ti, vais estar a enganar a ti mesmo, e tu não gostas de ser enganado, pois não?



Registo da minha experiência:

Dia 1, Segunda-feira
Bateria 100%
A minha rotina matinal nunca envolveu o smartphone, por isso correu naturalmente. Ao chegar ao trabalho deparo-me com as montanhas nas redondezas pintadas de branco, estava a nevar pela primeira vez no ano, e muito raramente neva por cá em Dezembro.
O meu piloto automático fez-me esticar o braço para pegar no smartphone e abrir a APP da câmara, e ao ver o modo Ultra Poupança activado, lembrei-me imediatamente do desafio que eu tinha proposto e aceite por mim, então resolvi simplesmente olhar, absorver com toda a minha alma aquele cenário, para depois descrever à minha mulher e filhos pessoalmente no fim do dia. Dizem que uma imagem vale 1000 palavras, mas menos de 10 palavras partilhadas com carinho com a nossa família, valem mais que uma foto partilhada a 1.000.0000 de pessoas (digo eu).
Já tive que recorrer a uma APP num smartphone por motivos profissionais, algo que não posso evitar neste trabalho, porque não comentei a ninguém este meu desafio, que certamente será visto como coisas de um "lunático", um "doido varrido", para muita gente que é 100% dependente do seu smartphone e vive bem com esse facto.
Ao final do dia já estava mentalizado em levar o desafio a sério, mas depois de chegar a casa e fazer algumas rotinas, dei por mim a pegar no tablet da minha filha para procurar uma APP para afinar a minha viola, depois ocorreu-me que estava a fazer mal. Lembrei-me que tinha um afinador digital numa gaveta e afinei a viola apenas para tocar 5 minutos. O smartphone dispensava que tivesse aquele afinador, que custou cerca de 10,00 euros e a APP foi gratuita.
Mas como não tinha o smartphone para queimar 5 minutos, para ver o WhatsApp ou os e-mails, que não estou a esperar nada de importante, fui pegar na viola. Lamento aperceber-me que não o fazia à mais de um mês, nem por 1 minuto, porque matava 5 ou 10 minutos a ver algumas APP's ou um vídeo. Afinal ocupava o meu tempo com o meu smartphone mais do que eu pensava.


Dia 2, Terça-feira
Bateria: 88%
Quando acordei, tinha cerca de 90% de bateria, mas estava com o Bluetooth ligado e recebi uma chamada. Ao chegar ao meu trabalho o smartphone reconheceu o wi-fi e ligou-se automaticamente, uma inteligência não muito conveniente, quem lhe disse que eu queria estar sempre ligado a uma rede? Para a semana tenho que alterar essa opção.
Em casa depois do trabalho, tudo tranquilo, as vezes que costumava usar o smartphone, foram substituídas por tempo em família, na brincadeira ou a conversar. Já começo a mentalizar-me que é assim e já nem penso nas utilidades do smartphone.


Dia 3, Quarta-feira
Bateria: 78%
Ao acordar com o despertador do smartphone, e como estava desligado, ele vai sempre ao modo normal, depois é que tenho que activar o modo Ultra Poupança, deslumbrei 2 mensagens novas no WhatsAPP. Instalou-se logo a pergunta: Será que é importante ? Deveria ver ?
Se fosse assim tão importante já me tinham ligado, porque o numero do WhatsAPP é justamente o numero do meu telemóvel. Ignorei e passei à frente.
Hoje foi dia de ir buscar as notas da escola da minha filha, e na lonnnnnnga espera, reparei que nos pais da sala da minha filha apenas um pai estava com o seu smartphone, o resto estavam a conversar uns com os outros. Mas vendo bem, são pessoas que da minha geração ou uma anterior, por isso, para eles é mais ou menos fácil não estar vidrado num ecrã.
Estatisticamente positivo.
Um pequeno (grande) pormenor, estou à 3 dias sem carregar o smartphone, e ainda nem vai a "metade" (eu carrego sempre quando chega aos 20%, como o fabricante recomenda) da bateria. O meu recorde anterior era de 2 dias, sem jogar, depois disso aboli os jogos no smartphone. Agora jogos são raros, e quando jogo é com os meus filhos na Nintendo Switch.


Dia 4, Quinta-feira
Bateria 67%
Já com 4 dias dentro do desafio, começo a perceber que o smartphone não faz quase falta alguma. Ontem ao fim do dia foi preciso um cupão para uma compra num Meu Super, por acaso tinha deixado o telemóvel no carro, e não fui busca-lo. Não sei se esses cupões estão disponíveis apenas na APP ou se é possível imprimir à porta dos supermercados. Mas imprimir já vai contra o gasto desnecessário de papel.
É a primeira situação que penso que o smartphone trazia uma vantagem por segundos.

Observação: Ao usar exclusivamente o modo Ultra Poupança, o smartphone gasta em média cerca de 10% da bateria por dia, a fazer chamadas, enviar SMS e receber, dentro da normalidade.


Dia 5, Sexta-feira
Bateria: 50%
Hoje não senti falta alguma das características do smartphone, podia bem ser um dumbphone no meu bolso neste momento que seria igual. Recebi chamadas, fiz chamadas, recebi uma SMS de Natal. As pausas sem ver um vídeo ou ir a uma APP, demoram mais tempo a passar e ainda bem, porque antes  estavam a passar a correr. A sua ausência aparece amplificar o barulho do vento nas árvores, o cantar de pássaros. Tudo coisas que o cérebro já filtrava, devido à sua concentração num rectângulo na minha mão. Pensava que ao ver um episódio de uma série ou um documentário depois do almoço, faria com que aquele fosse o tempo para mim, mas ao estar parado a olhar para a rua e ver a chuva a cair, o vento a fazer as árvores dançarem, os minutos demoravam a passar, da mesma maneira de quando estamos num lugar qualquer à espera de algo e os minutos parecem horas.
Tenho vários lembretes no meu telemóvel, que neste momento estão desactivadas, mas no entanto, lembro-me deles sem a ajuda das notificações, ou simplesmente não me importo que não o faça, porque aparentemente não faziam grande diferença ao meu dia.

Dia 6, Sábado
Bateria: 37%
Com a bateria quase nas "últimas", vejo que o smartphone tem várias utilidades e várias inutilidades para algumas pessoas como eu. Profissionalmente tem muitas vantagens, mas para uso pessoal um smartphone vem com funções a mais, dependendo da necessidade do utilizador. Por isso na minha opinião, um smartphone de 1000 euros para uso pessoal é mais um luxo que uma necessidade.


Dia 7, Domingo
Bateria: 21%
Nem consigo acreditar que o telemóvel não é carregado à uma semana. Já lembra os dumbphones mas com a vantagem de ter as opções de um smartphone à mão. Acho que não conseguia voltar  100% para um dumbphone, porque muita coisa adaptou-se a esta nova realidade, inclusive serviços. É quase uma versão muito ligeira do que será ser Amish. Não mata, mas há coisas que não fazem muito sentido, porque faz parte da evolução e tal como todas as evoluções, existem aspectos positivos e negativos. Por falar nisso, aqui ficam os prós e contras que encontrei neste desafio.


Prós & Contras

Prós de ter um smartphone:
  1. Câmara - Com um smartphone temos uma câmara sempre disponível para registarmos qualquer momento. Mas será que isso é mesmo uma necessidade ? Ou será algo que pensamos ser uma necessidade ? Quantas fotos tiradas por ti acabas por revelar, para as admirares ou expores na tua casa ? Talvez nunca o tenhas feito. Se é tudo para as redes sociais, então estás a dar prioridade ao que mostras os outros.
  2. Informação instantânea - Uma das características que já nem ligamos muito, é o facto de termos informação na palma da nossa mão disponível em segundos, algo impensável com os dumbphones. Mas raramente precisamos de uma informação de vida ou de morte e nada que o acesso a um computador não resolva.
  3. APP's úteis à mão - As APP's fazem com que não precisemos de levar 5 coisas diferentes, apenas precisamos de as instalar no smartphone.
  4. Poupar o gasto de papel - Existem APP's, como a do Modelo e Continente que fazem gastar menos papel ao ter os cupões disponíveis em qualquer momento.

Contras de ter um smartphone:
  1. Controlo remoto de micro e câmara - Tanto o microfone ou câmara do teu smartphone podem ser ligados remotamente. Não é legal, mas fazem. Fazem a todos ? Não sei, mas prefiro não arriscar. Gosto de manter a minha privacidade privada.
  2. Duração da bateria - As APP's fazem gastar bateria a um ritmo impressionante, até tivemos que inventar um powerbank porque as baterias já nem duram um dia inteiro.
    Observação: Ao usar exclusivamente o modo Ultra Poupança, o smartphone gasta em média cerca de 10% da bateria por dia, a fazer chamadas, enviar SMS e receber, dentro da normalidade.
  3. Resistência do aparelho - A não ser que tenhas uma capa blindada, vives com medo que o deixar cair, porque os ecrãs são caros. Os dumbphones caiem no chão e lhes saltam as capas e bateria, montas, ligas e está ok.
  4. Perda de tacto - As APP's podem substituir algumas coisas virtualmente, mas depois deixamos de usar por exemplo um bloco de notas e uma caneta de verdade. Deixamos de ver locais porque podemos pesquisar, deixamos de ver as pessoas porque fazemos uma vídeo chamada, etc.
  5. Jogos egoístas - Os jogos são bons e têm bons gráficos mas fechamo-nos no mundo à parte. Há mais piada em jogar numa consola ligada à TV na companhia dos filhos ou amigos.
  6. Publicidade em todo o lado - Somos bombardeados por publicidade nas redes sociais, antes dos vídeos, durante os vídeos e depois dos vídeos, nos jogos. Todos a querem mostrar que temos que adquirir o objecto X ou Y, ou uma prestação, para sermos felizes como as os actores e actrizes demonstram ser nas campanhas de publicidade. A publicidade está noutros locais, sim está, mas o smartphone está sempre ao alcance da nossa mão, raramente está a mais de 5 metros de distância de nós.
  7. Preguiça - Quando era mais novo, tinha que saber os números de telefone de cor, agora o meu cérebro ainda sabe os "antigos", mas entretanto perdi a capacidade de decorar mais, porque há um smartphone que sabe os meus contactos, datas de aniversários, rotinas e muito mais. Tornando o meu cérebro preguiçoso e comodista.
  8. Menos tempo para ti - Ao ocupar o cérebro com vídeos, jogos, redes sociais, ou APP, deixas o tempo que devias dedicar a ti.

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